Uma equipa dirigida por investigadores do Instituto Carnegie descobriu um ciclo bioquímico chave que suprime a resposta imunológica, permitindo assim às células cancerígenas multiplicar-se de maneira contínua.
A investigação mostra como as biomoléculas responsáveis pelo bom funcionamento dos linfócitos T, primeiros defensores do corpo contra invasores hostis, são neutralizadas, permitindo a propagação do cancro invasor. O mesmo ciclo poderia também estar envolvido em doenças auto-imunes como a esclerose múltipla.
NC&T) Os cientistas usaram nanosensores moleculares especiais para o trabalho de investigação. Empregaram uma técnica chamada FRET para monitorizar os níveis de triptófano, um dos aminoácidos essenciais que as células humanas necessitam para a sua viabilidade.
Os humanos retiram o triptófano de alimentos como os cereais, legumes, frutas e carne. O triptófano é essencial para o crescimento e o desenvolvimento normais nas crianças e para o equilíbrio de nitrogénio nos adultos.
As células T também dependem dele para a sua resposta imunológica. Se não têm triptófano suficiente, morrem e deixam de ser capazes de detectar as células invasoras.
Os cientistas observaram as transformações químicas que sofre o triptófano à medida que é processado em células cancerosas humanas vivas.
Quando esta substância se descompõe nas células cancerosas, uma enzima (conhecida como IDO) forma moléculas chamadas quinureninas, que reduz a concentração de triptófano nos tecidos locais e faz com que os linfócitos T deixem de ter a quantidade suficiente.
Uma descoberta importante da investigação foi constatar que uma proteína transportadora (LAT1), presente em certos tipos de células cancerosas, efectua a troca entre triptófano procedente do exterior da célula e quinurenina do seu interior, daqui resultando um excesso de quinurenina, tóxica para as células T, nos fluidos do corpo.
É um duplo problema para as células T. Não só lhes causa "má nutrição" por carência de triptófano, como ainda este triptófano acaba por ser substituído pelas tóxicas quinureninas, que destroem as ditas células.
Os cientistas acreditam que este ciclo pode estar também envolvido em células ligadas a certas doenças auto-imunes.
Nestes casos, as células não poderiam obter nem transformar triptófano suficiente. Sem suficiente aminoácido ou enzima IDO para convertê-lo, as células não conseguem produzir a quinurenina necessária. Faltando quinurenina, os linfócitos T do próprio corpo não podem manter-se sob controlo, de maneira que se rebelam e atacam o organismo.
Os resultados deste estudo poderão ser úteis para identificar novos fármacos que reduzam a capacidade das células cancerosas para obter triptófano ou para o degradar. Esta tecnologia poderá constituir uma grande ajuda para o tratamento do cancro.