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ARTIGOS DE FUNDO - Quero um pai que me castigue
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Vítimas, nalguns casos, de um excesso de permissividade, um grupo de adolescentes relata como é fácil aceder às drogas que consomem para "rir-se", "estar mais tranquilos" e até "pensar".
"O meu pai é um porreiraço e está comigo até às cinco da manhã. Mas eu não quero um pai colega, eu quero um pai que me castigue". O testemunho deste jovem consumidor de droga serve para deixar claro à coordenadora do Serviço para Adolescentes de Etorkintza, Inma Cuena, que "os jovens têm que ter um travão que os faça dizer: 'O meu pai é o pior do mundo, não me deixa sair, tem-me dado cabo do juízo'. Necessitam de limites claros".
Da mesma forma que há menores, vítimas de uma permissividade excessiva, que têm saudades que lhes imponham normas em casa, também os há que se queixam do contrário. "Fiquei sem a semanada, um ano sem sair, não tenho direito a comprar roupa, não tenho direito a nada, só falta colocarem-me numa cama de pregos", lamenta-se outro jovem que consome estupefacientes", diz Inma Cuena, que aproveita para advertir que "às vezes o excesso de castigo também não funciona e não porque não o mereçam".
Enquanto os pais tratam de encontrar o difícil equilíbrio entre a "disciplina férrea" e "o deixar fazer", seis adolescentes que consomem droga relatam a este jornal - com o pessoal do Serviço para Adolescentes de Etorkintza como intermediário - o fácil que é aceder ao speed ou ao haxixe, substâncias que tomam para divertir-se, esquecer-se dos seus problemas, relaxar e até pensar.
Rapaz de 16 anos
"Os meus pais olham-me como se eu fosse um drogado"
"Eu não tenho nenhum problema, só fumo charros num ou noutro fim de semana com os amigos". Aos dezasseis anos, este adolescente parece estar muito seguro que o haxixe não o prejudica, mas a sua família, como é lógico, pensa o contrário. "Eu acho que está tudo bem, mas os meus pais descobriram que eu fumo charros e agora é que são elas. Olham-me, por assim dizer, como se fosse um drogado. Passam-se. Uma coisa é estarem zangados ou não gostarem mas…", queixa-se com a rebeldia própria da sua idade.
Como se de um julgamento se tratasse, alega em sua defesa que estuda e obedece. "Obedeço a tudo, vou para casa quando mandam e isso é que é uma hora de merda", protesta este rapaz que vai para a terapia para ver se os pais "entendem algo" e o deixam "um pouco em paz".
Rapaz de 17 anos
"Gostava de estar 'nas nuvens' porque tinha os meus problemas"
Com apenas quinze anos, consumiu basuco - massa que está na base da cocaína - pela primeira vez. Foi na rua, "com os colegas". Longe de ficar com uma má experiência, repetiu. "Gostava de estar 'nas nuvens' porque tinha os meus problemas", reconhece este jovem dois anos depois.
Depois de dizer os preços de algumas substâncias a título de exemplo - "sessenta euros cristal e coca, quinze euros anfetaminas" -, este rapaz diz que, desde que não consome, além de economizar, vive mais tranquilo. "Tenho menos angústias, não tenho brigas e, sobretudo, melhora o bolso", conclui. Convencido que "a droga, qualquer droga, é o problema de tudo" e que as terapias "não servem", apenas resulta o "fá-lo tu mesmo", este jovem assegura que em determinados ambientes é "raro" poder dizer que não. "Todos estão numa", afirma.
Rapaz de 16 anos
"Há às pazadas, em qualquer lugar, no pátio, amigos"
Fumou os primeiros charros "no recreio da ikas" com os amigos por volta dos catorze anos de idade. Agora tem dezasseis e ainda não está consciente do perigo. "Vou fumá-los sempre, esqueces e ficas melhor", assegura, convencido que a cannabis não o prejudica. "A coca sim, mas o haxixe a mim não me dá nenhum problema", afirma este rapaz que vem a Etorkintza pela sua família. "Eu venho pela minha mãe", confessa e reconhece que desde que a sua mãe também vem à terapia ele sente-se "melhor".
Da mesma forma que o resto dos adolescentes, este rapaz também diz ter a droga à mão de semear. "Está por todo o lado às pazadas, em qualquer lugar, no pátio, amigos...", diz ele, ao tempo que assegura que "há pessoas que fumam - estupefacientes - para não ficarem mal vistas ou para não darem uma de chato".
Rapariga de 17 anos
"Quase fico louca e à segunda-feira só me apetecia chorar"
Deram-lhe a provar speed numa festa e desde então começou a consumir "uma pitada, pouca coisa", quando saía para se divertir. A um ano de atingir a maioridade, esta jovem assegura que é fácil conseguir droga, mas adverte que "é preciso ter cuidado porque vendem-te qualquer coisa".
Mesmo que reconheça que quando se drogava "ficava paranóica e tudo se alterava", ela também passou mal quando deixou de consumir. "Quase fico louca e à segunda-feira só me apetecia chorar", confessa esta rapariga que, da mesma forma que os companheiros, acha que pode deixar os estimulantes quando quiser. A cannabis, entretanto, confessa, "é difícil" deixá-la.
Com toda a vida pela frente, esta jovem afirma "ver as coisas diferentes" desde que vem à terapia. De facto, assegura que já disse não à droga no seu círculo de amigos. "Agora já lhes disse, a todos, que passo e bem".
Rapaz de 15 anos
"Fumo charros para me rir e isso ajuda-me a pensar"
Bebe álcool e fuma charros desde que sai com os amigos. Fá-lo na rua, apesar da pouca idade. Na hora de explicar o que procura na droga, este rapaz sabe-o bem. "O normal, rir-me e isso, ajuda-me a pensar", diz este adolescente a quem "convidam" quando não pode adquirir a droga ele próprio.
Mesmo que os rapazes desta idade se deixem influenciar pelos amigos, este adolescente de quinze anos afirma que ele não consome droga sob pressão. "Cada um faz o que quer, eu gosto, ninguém me obriga", diz ele, deixando patente a sua ignorância em relação aos perigos que os seus maus hábitos comportam. "Eu não sou um drogado, se o fosse, está bem, isso iria prejudicar-me", esclarece.
Rapariga de 17 anos
"Sei que me prejudica, mas às vezes sinto que necessito disso"
Estreou-se no consumo de álcool e haxixe com o namorado e, aos dezassete anos, continua a consumir cannabis, "mas já não é como antes, agora é fumar por fumar e estar mais tranquila", afirma esta jovem que nunca precisou de roubar. "Não tenho ido comprar, mas sei quem passa", diz.
Diferentemente de outros adolescentes, esta rapariga admite que às vezes as companhias induzem-na a consumir droga. "Não to dizem de caras, mas incentivam-te", afirma. Ao descrever a sua vida sem drogas, confessa que "foi duro e às vezes um pouco problemático, mas ajuda a tranquilizar, a acreditar que podes fazer as coisas de outra forma. Sobretudo em casa, há menos ocupações", precisa, conhecedora dos danos que supõe consumir. "Sei que me prejudica - reconhece - mas às vezes sinto falta disso".
Criado em: 29/10/2007 • 10:33
Actualizado em: 29/10/2007 • 21:24
Categoria : ARTIGOS DE FUNDO
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