Quando alguém tem de colocar-se no lugar do outro, a cultura que dá mais importância à interdependência do que ao individualismo, proporciona uma vantagem.
Numa experiência psicológica os estudantes chineses ganharam aos seus companheiros norte americanos quando se lhes pedia para inferir indirectamente a perspectiva de outra pessoa.
Os investigadores dizem que este resultado pode ajudar a explicar como se podem dar os mal entendidos nas comunicações entre pessoas de diferentes culturas.
Em estudos anteriores demonstrou-se que a cultura pode influir em comportamentos básicos, por exemplo, como vemos os objectos. Agora demonstra-se que influi noutras qualidades mentais.
Na experiência que hoje se descreve Boaz Keysar e Shali Wu da Universidade de Chicago (Illinois) recrutaram 40 voluntários. Metade destes voluntários eram chineses, emigrados recentemente para os EUA e cuja língua materna era o mandarim. O s restantes eram não asiáticos que tinham crescido nos EUA.
Todos eles participaram num jogo no qual tinham que seguir as instruções de uma pessoa situada no outro lado da mesa denominado “director” e que fazia parte do grupo de investigadores.
Entre estas duas pessoas existia uma caixa com vários compartimentos onde se encontravam objectos como blocos de madeira, brinquedos, óculos de sol, etc.
Alguns compartimentos eram cobertos por um dos lados com um papelão que ocultava o conteúdo aos olhos do director, enquanto o sujeito do estudo podia ver o objecto situado dentro, sem problemas (ver foto).
Os voluntários tinham que seguir as instruções do director e movimentar os objectos indicados de um compartimento a outro.
Mas algumas vezes os investigadores situavam dois objectos do mesmo tipo na caixa. Neste caso os sujeitos do estudo deviam considerar o ponto de vista do director para saber a qual dos objectos se estava a referir.
Por exemplo, se existiam dois blocos de madeira, num compartimento visível ao director e outro invisível para ele, e este pedia ao sujeito do estudo que movimentasse o bloco de madeira para o compartimento superior.
Os estudantes chineses entendiam imediatamente a que bloco de madeira se referia o director, enquanto os estudantes norte americanos nem sempre se inteiravam e perguntavam que bloco deviam movimentar. De facto 65% dos norte americanos tinham este tipo de confusão, face a 5% dos chineses.
Além disso os norte americanos tinham uma reacção mais lenta no momento de movimentar o objecto, necessitando de 30% mais de tempo em média para completar a tarefa. No entanto os objectos duplicados não pareciam afectar os estudantes chineses neste sentido.
Os investigadores acham que para os estudantes chineses a tarefa é mais simples, porque lhes é fácil situar-se no ponto de vista do director. Sugerem, além disso, que as crianças são educadas nos EUA de modo a que tudo gire em redor deles.
Um exemplo desta cultura do egocentrismo ou individualismo provém de uma empresa do Texas que para aumentar a produtividade incentivou os empregados a olharem-se ao espelho todas as manhãs e a dizerem “sou bonito” cem vezes antes de irem trabalhar.
Por outro lado, num supermercado japonês incentivam-se os empregados a dizerem aos outros “você é bonito”.
Nas culturas orientais fala-se mais subtilmente, obrigando o interlocutor a ler nas entrelinhas e a imaginar a perspectiva de quem fala.
Os investigadores sugerem que este tipo de estudos pode ajudar a explicar os mal entendidos entre as sociedades asiáticas e as ocidentais.