- Na internet, faz sempre um duplo clique nos links. Alguém lhe disse, lá pelos anos noventa, que para abrir qualquer coisa no computador devia fazer um duplo clique em cima e é assim sempre.
Com o que não contava é que a era da internet chegaria e que, ao dar um duplo clique num link, se abrem tantas janelas como os cliques dados.
- Lê qualquer mensagem que lhe aparece no computador do princípio ao fim, como se fosse a primeira vez na vida.
Todos sabemos que o computador nos pergunta mil vezes por dia coisas do tipo "Deseja guardar o arquivo?", "Se fechar, as mudanças que não tenham sido guardadas perder-se-ão", "Este arquivo poderá conter elementos não seguros"... eu sei lá, mil coisas que estamos fartos de ver e que aceitamos de maneira quase automática, ou não, mas em estilo pim-pam pim-pam.
Antes de pensar, já demos o clique. Ele não, ele lê cada mensagem com cuidado, medita sobre ela, põe lentamente o cursor sobre o OK, volta a lê-la para ver se perdeu algo e faz o mesmo que fazia há dez anos perante essa mesma mensagem: aceitar, ou não.
Se estamos ao seu lado nesse momento, tem a estranha mania de ler a mensagem em voz alta, como se o computador comunicasse com ele e ele fosse o escolhido para fazer de intérprete com o mundo.
- Não concebe espacialmente o monitor. Cada vez que tem de fechar uma janela, minimiza-a ou abre algo do ambiente de trabalho, divaga em várias direcções com o cursor do rato até que acha o mesmo botão, ícone ou cruzinha onde carrega várias vezes todos os dias e que está no mesmo lugar de sempre. É fascinante isto, como movimenta o cursor com ar de concentração.
- Não tem nenhum atalho no ambiente de trabalho ou tem tantos que não necessita de abrir o Explorador do Windows porque tem tudo ali, aqui sempre estamos perante extremos.
Depende do que se aprendeu no primeiro dia de contacto com o computador. Se ensinaram a gravar ficheiros no ambiente de trabalho, estão lá todos; se não ensinaram, não há lá nada.
- Ainda se recorda do WordPerfect e às vezes chama assim ao Word por engano.
- Na internet, em vez de usar a pesquisa, escreve tudo na barra de endereços com os www e .com, por isso a sua lista tem aproximadamente oitocentos endereços gravados e é um espectáculo quando a abre. Uma frase para a história que ouvi esta semana foi algo assim: "parece-me que vou mudar para o Google esse... o Yahoo está um pouco lento ultimamente, não encontro quase nada".
- Quando entra na internet e aparecem janelas pop-ups com publicidade, lê-as minuciosamente, pode ser algo importante. Se aparecem duas vezes, lê duas vezes.
- Na sua caixa de entrada de email, tem coisas de 1998.
- Os emails e documentos do Word têm sempre a letra e tamanho que vem por defeito e o estilo mais sofisticado que usa é o negrito, o itálico, o sublinhado, a maiúscula e o tabulador. E o ponto é à parte também.
- Os atalhos das pastas para guardar os documentos, costumam ter tantas sub-pastas acumuladas com o passar do tempo, que necessita de dez a doze passos para aceder ao documento que pretende.
Obviamente, cada vez que abre uma sub-pasta, a atitude é: pôr o cursor do rato no meio do ecrã, procurar com a vista por todo o monitor como se não existisse relação entre o que clicou anteriormente e o que se abre, lentamente aproxima a setazinha e faz um duplo clique no que quer com certas dúvidas, como se não existisse o voltar atrás em caso de erro. Assim faz as doze vezes.
- Não tem favoritos nem sabe da sua existência. Procura a sua página na lista da barra de endereços depois de fazer um scroll de dois minutos ou escreve-a outra vez, num total de oitocentas a mil armazenadas.
- Se abre o PowerPoint da treta enviado por email, tem que o ver até ao fim, mesmo que não goste, porque não sabe que a tecla ESC serve para abortá-lo. Se de repente sente que o vão apanhar com algo pornográfico aberto há duas opções: ou passa tudo a toda a velocidade (clickclickclickick...) ou desliga o computador com o reset (juro que o tenho visto).
- Quando lhe enviam uma piada pelo correio que tem muita graça, imprime-a e leva-a para a mesa para que a leiam, que isso de reenviar é mentira.
Os PowerPoint costumam ser de há dois anos no mínimo. Isso, quando não são de correntes do tipo "se não reenvias a dez pessoas, vais ter um dia de azar" ou fotos bonitas de cataratas, vulcões e lagos que já se viram numa edição antiga da revista Super Interessante que estava no barbeiro ou no cabeleireiro.
- Imprime quase tudo e faz uma pilha com isso na secretária. Toma muitas notas a esferográfica.
- Não mostra emoção alguma nem curiosidade em cuscar um pouco as novas opções, quando lhe mudam o equipamento periodicamente por um mais novo.
- Qualquer arquivo que não tenha extensão .pdf, .doc, .xls, .jpg ou .zip (os típicos, vá), transforma-se numa barreira intransponível que requer ajuda telefónica ou pergunta directa a quem está mais perto, do estilo "isto que é?".
- Não tem nenhum problema em enviar um email de 15 megas se o peso dos arquivos que quer enviar soma isso. Neste sentido é um pouco psicopata, porque não tem nenhuma consciência do bem e do mal.
- Para ele, minimizar uma janela é sinónimo de fazê-la desaparecer para sempre. Se tem que abrir sete vezes o Excel sem fechar o anterior, abre-se e pronto. Mas fecha-os todos de repente quando vai para casa.
- Tem o volume de som ao nível que vinha no primeiro dia, por isso os seus vídeos e ficheiros com som, são os que mais se ouvem do escritório.