A tarefa da universidade não é oferecer o que a sociedade procura, mas o que a sociedade necessita. As coisas que a sociedade procura são, em geral, bem conhecidas, e para isso não necessita de uma universidade. A universidade tem que oferecer o que mais ninguém pode dar.
À sombra dessa síntese, estimado e estimada aluno e aluna, eu gostaria que soubesse umas poucas coisas:
-
Que a Universidade não tem como objectivo colocá-lo o mais rapidamente possível numa empresa, para isso existem as agências de emprego.
-
Que a Universidade não tem que ensinar o que as empresas querem: os desejos das empresas não são as obrigações das universidades.
-
Que a Universidade não é o prolongamento do Liceu: as suas técnicas e hábitos de trabalho, se os tem, devem mudar.
-
Que a Universidade não pode ensinar somente habilidades mas preferentemente as bases do conhecimento.
-
Que eu, como professor, dou por assente que é adulto e que vem voluntariamente: não tenho que o vigiar nem levá-lo pela mão como faria com um menino da primária.
-
Que eu, como professor, não tenho que dar apontamentos das disciplinas, mas guiar sobre o que deve aprender, ler e estudar.
-
Que mesmo que eu dê apontamentos, eles devem ser usados como guia não como texto: posso exigir mais e, de facto, assim farei.
-
Que, como aluno, deve trabalhar, ler e estudar dentro e fora do período das aulas: a universidade é o seu trabalho.
-
Que eu, como professor, não vou entender facilmente que a sua única curiosidade e preocupação seja se isto ou aquilo “vai sair no exame”.
-
Que eu, como professor, não vou entender facilmente que as aulas estejam vazias até uma semana antes do exame.
-
Que eu, como professor, não vou entender facilmente que peça uma prorrogação para as práticas quando vejo que no seu computador da sala, o Messenger ocupa 80% do tempo de actividade.
-
Que a universidade tem problemas, com efeito, mas que as leis do mínimo esforço e do garrafão, e a noite das quintas-feiras não vão solucionar os que tem.
Em suma, e colocando-me em plano House:
-
Que eu já tenho trabalho e é você que está a correr para o futuro: calce as sapatilhas.
Por isso surpreende-me ver que eu, funcionário do Estado e portanto com emprego garantido, trabalho nas “pontes”, na maioria dos feriados e bastantes fins-de-semana enquanto observo perplexo as mesas dos bolseiros vazias, as salas de informática vazias, as bibliotecas vazias...
E não diga que os professores são um desastre ou que a universidade sofre de uma corrupção generalizada.
Eu sei isso melhor que qualquer um, já falei disso outras vezes e não desculpo os parasitas que a universidade, como grande organismo que é, suporta e suportará.
Mas hoje não é disso que se trata. Hoje falamos de si. Querido e querida aluno e aluna.