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Empatia
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© Marcelo Brito Filho

Somos animais sociais, confirmam-no tanto os etólogos (investigadores do comportamento animal) como os neurocientistas que desentranham os códigos do cérebro humano. Frederique de Vignemont (Bron, França) e Tania Singer (Zurique) serviram-se de técnicas de espectrometria para medir o impacto das emoções no cérebro e como as emoções manifestadas por um indivíduo que fala afectam as de quem escuta. Deste modo mediram o que até há pouco era quase só uma sensação de validade social: a empatia.


Vignemont e Singer foram mais além e postularam inclusive alguns factores que pudessem explicar tanto as emissões como recepções de empatia a partir da base cerebral. Os cientistas asseguram que estes factores desempenham um trabalho fundamentalmente epistemológico, procurando informação orientativa sobre o que o falador pensa ou se dispõe a pensar, bem como circunstâncias como o seu estado de espírito e a sua maior ou menor cumplicidade com o que diz.

Alienando emoções

A capacidade de experimentar emoções alheias como se fossem próprias é a base da empatia. Averiguar que emoções guarda o nosso interlocutor, verificar quão fortes elas são e o que as desencadeou pode parecer um trabalho de adivinho, mas há muitas pessoas que num grau ou noutro são capazes desta tarefa. Para os psicólogos resulta quase numa faculdade sine qua non. Não se trata só de ser simpáticos. Convidamos alguém para tomar chá, escutamos atenciosamente as suas exposições e mostramo-nos congruentes com o seu estado de espírito, aliviando pesares ou reforçando euforias... Isso é só simpatia.

Quem tem muita empatia triunfa em trabalhos de ensino, assistência médica ou vendas, mas está debaixo de stress permanenteSe não entendemos as emoções que o nosso convidado expõe até ao ponto de identificar a sua origem, não seremos capazes de enquadrar o círculo empático. A simpatia é um processo puramente emocional, que tem com a empatia a mesma relação que pode ter um desenho com o objecto que representa. A empatia envolve as emoções próprias; sentimos o que sentem os outros porque partilhamos os mesmos sentimentos; não captamos somente a emoção alheia, sentimo-la como nossa e raciocinalizamo-la com a nossa própria razão. Inclui perspectivas, pensamentos, desejos ou crenças que vamos buscar a quem está sentado diante de nós. Mas o chá com empatia pode também engasgar-nos.

Uma pessoa extremamente empática vive exposta a um complexo universo de informação emocional, dolorosa e pode ser quase intolerável, e os outros pura e simplesmente não percebem. Quem tem muita empatia triunfa em trabalhos de ensino, assistência médica ou vendas, mas está debaixo de stress permanente. «Primeiro, trata de entender o outro, depois trata de fazer com que te entendam a ti», dizia Stephen Covey. É bom recordar que a empatia não faz as pessoas boas. Ver o que os outros vêem, ouvir o que os outros ouvem, pensar o que os outros pensam ou sentir o que os outros sentem, pode ser também um requisito importante para converter uma pessoa em trapaceiro.

Aprender a ouvir

A maioria de nós fala prestando mais atenção às próprias emoções do que ao que nos dizem as emoções dos outros; ouvimos pensando no que vamos dizer a seguir, ou pensando em que tipo de experiências próprias podemos contribuir para a situação. Aprender a ouvir supõe dirigir toda a atenção para o outro quando fala, deixar de pensar no que queremos dizer ou no que nós faríamos no seu lugar. Quando se escuta com atenção, escuta-se com todo o corpo. As pessoas com grande capacidade de empatia são capazes de sincronizar a sua linguagem não verbal à do seu interlocutor. São capazes de interpretar indicações não verbais por meio de mudanças nos tons de voz, gestos ou movimentos que realizamos inconscientemente mas que proporcionam grande quantidade de informação.

Um exemplo: permanecendo sentados num café e pondo-nos a observar as pessoas em redor com atenção, notaremos com facilidade os que são amigos e os que não são. As pessoas que sintonizam demonstram a sua sintonia fisicamente e acompanham gestos, expressões, tom de voz, etc. No seu livro Frogs into Princes (Sapos transformados em Príncipes) Bandler e Grinder asseguram que os magos da comunicação caracterizam-se por três grandes pautas de comportamento: têm claro a mensagem que recebem, são capazes de ter a resposta adequada no meio de muitas respostas possíveis e apresentam uma agudeza sensorial capaz de perceber as emoções da outra pessoa sem que esta as tenha verbalizado.



A ANTIEMPATIA OU FOBIA SOCIAL

Não temos qualidades empáticas e, não obstante, sobrevivemos. Não há problema. No entanto, há pessoas para quem a dificuldade de entabular uma relação empática transforma-se num verdadeiro pesadelo. Há inclusive quem não saia de casa ou não fale com ninguém por medo de não entender ou de não ser entendido. É o outro extremo da empatia e provoca uma ansiedade doentia batizada com o nome de fobia social. Calcula-se que 3 a 13% da população experimenta fobia social, mas é provável que nestas projecções de prevalência se ocultem muitos casos ainda por diagnosticar.


A fobia social consiste num permanente medo das situações sociais, entrevistas ou actuações em público por receio ao embaraço que daí possa resultar. O fóbico social teme que a empatia dos outros identifique as suas debilidades e desenhe o retrato de uma pessoa ansiosa, débil, rara ou tola. Além disso, a sua ansiedade é acompanhada de palpitações, tremores, suores, flatulência, falta de ar, rubor e confusão. Em muitas ocasiões, o temor é tão intenso que as pessoas evitam completamente as situações sociais que receiam. Noutras, suportam-nas mas com considerável angústia e mal-estar. Em qualquer caso, tanto o medo como o tentar evitá-lo limitam as possibilidades de desenvolvimento pessoal e afectam profundamente a qualidade de vida.

 

Os quadros de fobia social costumam aparecer pelo meio da adolescência e não é raro que a pessoa fique desde então e por muitos anos numa grande timidez ou inibição social. Muitos fóbicos sociais acham inclusive que são assim e que não há nada a fazer para superar o problema, ignorando que existem tratamentos que demonstraram trazer de volta a capacidade sociável mesmo nos casos mais complexos. No tratamento da fobia social, a empatia do terapeuta encarregar-se-á de identificar, desafiar e combater os pensamentos, muitas vezes desfigurados, próximos da situação social concreta de cada pessoa.

 

JORDI MONTANER

 

 


Criado em: 10/01/2007 • 07:19
Actualizado em: 02/02/2021 • 14:13
Categoria : ARTIGOS DE FUNDO


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Comentários


Comentário n°1 

Tintinho 19/07/2009 • 14:59

Sou portador do transtorno de ansiedade social (Fobia Social) e entendo agora quais os sérios problemas que isso trouxe à minha vida afetiva, social e profissional.  Imagino que milhares de outras pessoas também estejam nesse momento passando pelas mesmos problemas.   Infelizmente há um despreparo imenso dos profissionais de advocacia e até mesmo psicoterapeutas e psiquiatras no tratamento desse assunto, digo até mesmo que há um grande preconceito em lidar com esse problema, a começar por nós mesmos, que na maiori das vezes, relutamos em aceitar o diagnóstico. Eu por exemplo, apesar de possuir um QI privilegiado, abandonei vários cursos de graduação Engenharia, Direito por sentir imensas dificuldades de me relacionar com outras pessoas, porfessores, e também na exposiçõ em trabalhos em grupo, seminários.   Na minha vida afetiva, tive muita sorte, pois casei com uma mulher incrível, que me ama, e que tem me ajudado muito, tenho duas filhas, mas assim como a minha, limito muito a vida delas, pois nunca vou a shoppings, lugares o­nde circulam muita gente, muito claros, exceto quando estou sob efeito de bebidas alcóolicas, ou quando não há outra alternativa, ou possibilidade de me esquivar.    Minha vida profissional foi profundamente abalada, pois certamente estaria num outro estágio, se não evitasse diariamente almoçar com os meus colegas, participar mais ativamente de reuniões, falar em público, etc. 

Sei que  somos muitos, de diversas classes sociais, e por isso quero sugerir a criação de uma associação, a fim de unirmo-nos, e buscar nós mesmos  soluções (jurídicas, terapeuticas, etc)  para os nossos diversos problemas.

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