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Nada é pior do que deixar a vida em compasso de espera, sem dia nem hora para voltar à ativa.
Sabe aquelas pessoas, que "se poupam" de aborrecimentos, capazes de não sair, para evitar trânsito, seres humanos ou barulho além da conta?
Não vivem, ficam aguardando uma melhor oportunidade, inclusive para correr o risco de encontrar a tal felicidade.
Pensam ter uma poupança, para depositar todas as ocasiões economizadas, numa vidinha sem muitas emoções. Depois. nada poderá ser sacado, é como a CPMF, a gente perde e não ganha nada.
Lembro de uma pessoa querida, capaz de usar táxi, em dia de chuva, para poupar o carro. Nunca entendi essa lógica. Não ganhava na-da, por ter deixado o possante descansando, para ser vendido novinho.
Algumas pessoas fazem isso com elas mesmas. Se economizam.
Passam a vida inteira debaixo da barraca, não comem fritura, bebem apenas xaropes, não vão para o Taiti por causa do Tsunami, não dançam porque estão olhando, não pulam do trampolim pra não quebrar o pescoço, jamais andariam na garupa de uma moto, tatuagem - nem pensar - pode passar hepatite, gatos passam toxoplasmose e beijos podem causar equimoses.
Vão acabar devolvendo à terra ou ao cosmos, uma embalagem praticamente sem uso.
Oxalá não percebam a mancada, deve ser terrível chegar à conclusão que o bonde passou, faz tempo, e esqueceu de embarcar.
Na outra ponta, vivem os que procuram, a qualquer custo, algum estado eufórico que costumam chamar de felicidade.
Nem eles sabem exatamente o que é, por isso, não se acham felizes.
Essas pessoas são tão exigentes, que complicam tudo, tornando a missão, uma utopia, impossível de se viver.Querem mais, sempre.Com muitos efeitos especiais.
Poucos reconhecem que a felicidade chega entrecortada, e, como num colar, vamos enfiando as pérolas falsas e as verdadeiras, os cristais e o que a vida oferecer.
Só não vale deixar tudo espalhado pelo caminho, compromete o resultado.
Comer um peixinho com um amigo ciumento, ouvir a paixão do outro, jantar um prato com nome de artista, com alguém que não víamos há trinta anos, assistir Na Era do Gelo com um balde de pipocas como companhia, encontrar uma amiga antiga e uma nova no orkut, refrescar-se do calorão num banho de chuva, sob a calha do quintal, comer um churrasco de gato sem culpa, levar novas flores para um amado que já partiu, chorar no cinema sem pudor, deixar o sutiã na gaveta por um dia e o preconceito para sempre...
Ser feliz pode ser tão simples, tão simples, que a sofreguidão da busca pode ofuscar.
É como um perfume sutil, que só com calma e faro especializado, se percebe. Bom dia!
Vera Cascaes
Criado em: 04/09/2006 • 23:09
Actualizado em: 07/09/2006 • 01:33
Categoria : O canto dos prosadores
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