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A tarde espreguiça-se longa e calmamente, como se fora eu pela manhã. Já se vem para a rua. Vestem-se os bancos de escuro e olhares distantes.
Paira no ar um cheiro de memória: esteva cozida ao sol do alentejo. Uma aragem breve traz o aroma do pão acabado de cozer, no forno que é todos e de ninguém.
Fica ali entre caminhos com as casas em redor. Não pára todo o dia e toda a noite. Nunca percebi que relógio dizia as horas a estas almas para fazer o pão.
"Pão quente: muito na mão, pouco no ventre". Com isto amainavam-me a vontade de o devorar logo ali, entre bufadelas e malabarismos.
Mestria era fazer o pão para a semana e bater certo com a vez de voltar a ir ao forno. Nunca às mesmas horas.
Era um momento mágico o reacender do forno. A esteva amontoada ao lado pedia meças, imponente, àquele monumento comunitário.
- Vó, faz costas!
- Está bem, guloso! Eu faço.
Uma "costa" era como um papo-seco, mas doce, mais comprido e mais baixinho. Levava azeite e canela. As extremidades eram maminhas por onde começava e terminava o prazer dos dias do pão diferente.
O luar de Agosto poupa o petróleo dos candeeiros da minha aldeia. Abrem-se agora as portas. Espera-se, em vão, que o calor saia e entre nas casas o fresco que não existe.
Dormita-se nos bancos. Por todo o lado há ralos, cigarras e grilos ao despique. Mas ninguém ouve.
- Vó-ó, posso dormir lá fora?
- Não. Vem aí o bicho!
- Ah! Qué vê o bicho!
- !
José Manuel Ruas
Criado em: 08/08/2006 • 19:33
Actualizado em: 05/09/2006 • 11:57
Categoria : Para ler e deitar fora
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