O ser humano tende a ver o passado de maneira positiva, sejam quais forem os factos que nos tenham afectado.
Com o tempo, tendemos a dar sentido ao que fizémos, o que nos transforma numa espécie muito positiva, que costuma minimizar o impacto das desgraças atrás de uma maior compreensão da vida e de nós mesmos.
Assim, relegamos as emoções negativas do passado e enfatizamos as positivas, pondo em relevo aquilo que nos permite manter uma visão optimista de nós mesmos e do mundo em geral.
Estas são as conclusões de dois estudos realizados por investigadores da universidade de Concordia, em Montreal, nos quais se analisou o impacto nos indivíduos de certos actos, assim como as emoções que produziram e a sua evolução no tempo.
Os resultados de ambos os estudos foram publicados no último número da revista especializada Journal of Personality.
Por outro lado, aqueles eventos negativos que nos afectaram profundamente e que ajudaram à formação da nossa personalidade não marcam o nosso mundo emocional da mesma forma para sempre.
Aparentemente, tendemos a minimizar o medo, a angústia e outras emoções negativas, enquanto enfatizamos as lembranças positivas.
Instinto de melhorar
Os indivíduos mentalmente sãos descrevem de forma mais optimista a sua história, de tal forma que isto lhes serve para criar uma identidade mais saudável, afirmam os especialistas Michael Conway e Wendy-Jo Wood, da citada Universidade.
Numa entrevista, Comway declarou que a saúde mental se mantém ou se melhora graças às contínuas tentativas que fazemos para dar sentido às experiências vitais. Há uma tendência para ver o aspecto positivo até mesmo nas situações mais difíceis que tenhamos vivido, e para minimizar ao máximo os seus efeitos.
Aqueles factos que afectaram mais o sistema emocional de uma pessoa transformam-se assim em ferramentas que conformam a sua personalidade ou sua história vital.
Baseando-se nos resultados de ambos os estudos, os especialistas concluíram que a percepção que temos dos factos negativos permite-nos dar sentido às coisas, mais um sentido positivo que negativo normalmente.
Mais de 300 pessoas
Para a investigação foram analisadas mais de 300 pessoas, em dois estudos diferentes.
O primeiro deles realizou-se com 279 universitários a quem se pediu para que pensassem num facto importante do seu passado que lhes tivesse ajudado a definir-se a si mesmos.
Depois pediu-se-lhes que descrevessem o acontecimento em termos, por exemplo, do tempo que ficaram afectados por ele ou quanto os ajudou a aprender a aproximar-se de si mesmos e da vida.
Num segundo estudo, pediu-se a 79 universitários que referissem e descrevessem, no papel, cinco lembranças que os tivessem marcado e que os pontuassem do um ao cinco segundo o impacto que tivessem tido nas suas vidas.
Além disso, preencheram dois questionários sobre 10 emoções que tivessem sentido quando lhes aconteceu esses factos e sobre como se sentiam nesse momento em relação a eles.
Sobreviver
Os resultados de ambos os estudos revelaram, por um lado, que os factos se integram positivamente, em geral.
Por outro lado, descobriu-se que os participantes mostraram que os efeitos emocionais dos factos negativos, como os conflitos com outras pessoas, a morte ou as agressões físicas e sexuais, costumavam mitigar-se com o tempo.
Por isso as feridas pareciam curar-se, com uma sensação de orgulho e felicidade que declaravam não sentir antes que as
“desgraças” lhes sobreviessem.
Pelo contrário, falavam-se de eventos importantes nas suas vidas que tivessem sido positivos, os universitários demonstraram que as suas emoções se mantinham intactas no tempo, com as mesmas sensações de orgulho e de felicidade.
Comway assinala que esta atitude é comum a homens e mulheres num leque de situações vitais.
Todos podemos encontrar-nos perante situações extremas que nos provoquem fortes reacções emocionais, mas todos devemos encontrar a maneira de manter um sentido positivo de nós mesmos e do mundo.
Marta Morales