- Estimado Ulf, venho aqui à tua cabana fazer-te uma visita porque dizem que és o homem mais sábio da tribo, respeitado até pelos grandes guerreiros do norte.
- Obrigado, Dween. Conta-me os teus problemas. Talvez te possa ajudar.
- Como sabes, as minhas terras confrontam a norte e oeste com o grande rio e com as terras de Clain “o torto” a sul e a este.
- Eu sei. Eu mesmo vos ajudei a construir o muro baixo de pedra que delimita os vossos pastos.
- Pois olha, recentemente uma das minhas vacas, muito nervosa por natureza, atravessou a pequena cerca – provavelmente por causa das dores do parto iminente – e pariu um formoso bezerro nas terras de Clain. Diz-me, a qual dos dois pertence a cria?
Ulf olhou-o um momento em silêncio e finalmente respondeu.
- Sinto muito Dween, mas já sabes que a lei ancestral diz que os frutos que a deusa natureza produz nas tuas propriedades, são teus. Por conseguinte, embora te desagrade ouvir, o bezerro pertence ao torto do Clain.
Dween decepcionado, agradeceu por ter ouvido a sua história e conselho e foi aceitando a ideia de ter um bezerro a menos.
Naquela mesma tarde, Ulf recebeu uma nova e inesperada visita.
- Boa tarde, Ulf, poderoso e magnânimo líder da nossa aldeia. Venho consultar o teu justo parecer a respeito de um problema que me preocupa e que me causa dores de cabeça com o meu vizinho.
Ulf sorriu ao vê-lo entrar.
- Não precisas de contar nada porque já sei o que se passa, Clain. E acho que já sabes o que te vou dizer. Desde a noite dos tempos, o animal que crias em tua casa, bem como a sua prole, é teu para todos os efeitos embora se desoriente e acabe nas terras de outro homem. Já que a vaca perdida era do Dween, o bezerro também é dele, apesar de ter nascido nas tuas terras.
Clain, o torto, não pôde senão assentir movendo a cabeça com desilusão. Não era a resposta que queria ouvir, mas Ulf era considerado um servidor do poderoso vizinho do norte (dizia-se até que tinha poderes para cobrar impostos em seu nome) de modo que não o quis importunar com diatribes legais para as quais, por outro lado, nem estava preparado. Como aconteceu horas antes com Dween, agradeceu por ter sido recebido, cumprimentou e foi por onde tinha vindo.
O filho de Ulf, que assistiu em silêncio às duas conversas perguntou ao pai intrigado:
- Pai, por que deste respostas tão diferentes a cada um deles? Não consigo compreender.
O pai foi ao curral e trouxe uma corda.
- Cala-te tonto! Que percebes tu de política? Hoje ganhámos um bezerro!