Muita gente opina que o ser humano é egoísta e solitário por natureza, mas a ciência demonstra o contrário.
Somos um ramo dos primatas tão intensamente social que na ausência de relacionamento com outras pessoas, literalmente morremos; os psicólogos sabem desde há muito que as pessoas submetidas a um isolamento completo durante um período bastante longo acabam por enlouquecer.
O que quer dizer que a nossa mente é incapaz, no sentido mais restrito, de funcionar sem ter perto outros seres humanos. Ou dito de outro modo, estamos incompletos, ficamos doentes quando não nos relacionamos com outras pessoas.
A solidão vai destruindo a mente e acaba por matar. Até mesmo quando o relatório da autópsia a causa de morte é o envenenamento lento por álcool. Num artigo recém publicado em PLoS Medicine uns investigadores finlandeses encontraram um claro relacionamento entre viver só e morrer alcoólico. Os humanos que não estão com outros humanos acabam por se matar a si mesmos.
É certo que o estudo também destaca que o preço das bebidas alcoólicas influi, e muito. Os países nórdicos, Finlândia entre eles, tradicionalmente tiveram grandes impostos sobre o álcool que encarecia (e por tanto limitavam) o seu consumo. Mas em 2004 Finlândia reduziu substancialmente o preço das bebidas alcoólicas. E isto reflectiu-se, segundo os dados publicados, num forte aumento das mortes por doenças derivadas do consumo de álcool. Como era de esperar, a baixa do preço aumentou o consumo e as suas consequências.
Mas o mais significativo é que este aumento foi especialmente marcado numa categoria social, num grupo definido não por idade, condição económica ou sequer sexo, mas pelo seu modo de viver: as pessoas solitárias.
Quem não convive com ninguém mostra uma clara tendência para abusar mais do álcool que qualquer outro grupo social, morrendo alcoolizados com maior frequência. As pessoas que não têm com quem partilhar a sua vida acabam partilhando-a com uma garrafa e perdendo a vida por esta causa.
Um humano solitário e são é uma contradição em si mesmo, porque somos uma espécie de primatas tão intensamente social que não podemos viver sem outros como nós à nossa volta. O estado natural do ser humano é a sociedade. Porque estar só acaba com a mente e até com a vida.