Autor: JORDI SABATÉ MARTÍ
Em que consiste o trabalho de Protégeles?
A nossa associação nasceu há dez anos como resposta social a uma necessidade cada vez mais premente: procurar que o acesso à tecnologia seja o mais seguro possível para os menores.
Protégeles é uma associação de protecção do menor, que centra a sua acção na busca de segurança no emprego das novas tecnologias da informação e comunicação, como a Internet, telemóveis, jogos de vídeo ou o ócio digital.
Somos a organização responsável da "Linha de Denúncia contra a Pornografia Infantil", membro do INHOPE, dependente da Comissão Europeia. Também somos a ligação espanhola do INSAFE, a rede europeia que vela pela segurança dos menores na Rede.
Os perigos da Internet têm a ver com a idade de quem navega?
É um erro considerar que a Rede leva ao isolamento
Nesta questão temos de ser muito claros: na Internet há coisas boas e coisas más. Em algumas ocasiões, além de más, deveríamos acrescentar que, de verdade, são perigosas e aberrantes. Mas não em função da idade, mas dos próprios conteúdos: desde as páginas de promoção da anorexia e a bulimia às páginas com informação sobre apedrejamentos, linchamentos, suicídios, etc.
À margem dos conteúdos, registam-se situações como o assédio e a chantagem a menores na Internet, o denominado "grooming", ou "ciberbullying" ou assédio escolar em rede. No entanto, o problema não é a ferramenta, Internet, mas o uso que alguns fazem dela e como se repercute isto nos outros.
A Internet é como um carro, tudo depende do uso que façamos dele. Pode salvar vidas ou pode tirá-las, em função de quem o use e para quê.
Como podem os pais separar o trigo do joio?
A tecnologia também nos ajuda a evitar o acesso a conteúdos perigosos mediante sistemas de filtragem
Deve aplicar-se na Internet as mesmas pautas de educação e prevenção que se aplicam noutros âmbitos: falar com os filhos sobre isso, interessar-se pelos lugares que frequentam e pelas pessoas com as quais se relacionam.
A tecnologia ajuda a evitar o acesso a conteúdos perigosos mediante sistemas de filtragem. Mas a primeira coisa que os pais devem fazer é informar-se e formar-se sobre o uso da Rede. Para eles, lançamos um site (está em espanhol) com toda a informação necessária, ciberfamilias.com, na qual se recompilam normas de segurança, legislação sobre a Rede, estudos comparativos de sistemas de filtragem, endereços de apoio em caso de necessidade, etc.
É mais difícil os pais saberem hoje em dia por andam os filhos?
É verdade. A maioria dos pais actuais, quando eram adolescentes, não podiam nem imaginar que chegaria a haver algo como a Internet. Ninguém sonhava com uma ferramenta como o "messenger" ou as redes sociais.
Nunca foi tão necessário reciclarem-se e actualizarem-se quanto à informação, pelo menos, até que os filhos passem a etapa crítica da adolescência. A Rede não é uma moda, é algo em constante evolução que veio para ficar. É fundamental já em muitos trabalhos e, sem dúvida, para os estudantes.
Os pais devem utilizar a Internet, insisto, conhecer o funcionamento de alguma rede social, jogar um videogame, utilizar um telemóvel e adaptar-se às ferramentas a que os filhos dedicam a maior parte do seu tempo de ócio. A maioria dos jovens já passa mais horas por ano em frente dos computadores do que no colégio.
Os filhos irão sempre à frente na aprendizagem digital?
Os pais devem adaptar-se às ferramentas a que os filhos dedicam a maior parte do seu tempo de ócio
Na imensa maioria dos casos. Isto não é ser pessimista, é ser realista. Por isso, é preciso assumi-lo como algo normal. O importante é segui-los de perto e que, quando falem connosco sobre algo que viveram na Internet, saibamos pelo menos do que falam para podermos partilhar com eles as nossas experiências sobre essa circunstância, as experiências que acumulamos como adultos sobre as questões da vida.
Enfim, vão viver situações com outras pessoas e ter acesso a conteúdos e informação interpretável de maneira diferente. Os pais podem e devem ser uma referência, mesmo que nem sempre estejam ao nível dos filhos no conhecimento das novas ferramentas que se desenvolvam.
Há um lado bom na tecnologia?
Atrever-me-ia a dizer que é o maioritário. Apesar de as estatísticas e dados se apresentarem, em algumas ocasiões, como "alarmantes", isso leva-nos a uma conclusão muito clara: a maioria dos menores e dos adultos fazem um uso adequado, correcto e muito proveitoso das novas tecnologias. Acedem a conteúdos apropriados, não sofrem situações de assédio nem as reproduzem e respeitam os direitos dos outros.
A Internet facilita o desenvolvimento de uma espécie de consciência global na qual todos podem interagir. Hoje em dia, qualquer pessoa, de qualquer idade e procedência, a partir de qualquer lugar do mundo, pode fazer chegar a sua mensagem, ideias ou conhecimentos a milhares ou milhões de pessoas. Dispomos de uma ferramenta com um potencial impressionante e boa parte dos utilizadores consegue tirar o melhor partido em cada dia que passa.
O facto da Internet isolar o menor do seu ambiente imediato é culpa da tecnologia ou de alguns pais que não sabem entrar no mundo do seu filho?
Apenas em 10% dos casos estudados encontramos problemas de viciação, com tudo o que isso comporta
É um erro considerar que a Internet leva ao isolamento. Na grande maioria dos casos, os menores mantêm as suas relações e actividades fora da Internet. E tem mais, em muitas ocasiões, tratam com as mesmas pessoas dentro e fora. Apenas em 10% dos casos estudados encontramos problemas de viciação, com tudo o que isso comporta.
Os menores que tendem a substituir o mundo real pelo mundo virtual escapam de algo e constroem um mundo à sua medida ou ao seu gosto. É dever dos pais conhecer as necessidades e inquietações dos filhos, além de manter as pontes necessárias para que a comunicação se mantenha durante os períodos mais difíceis.
O isolamento e a substituição de um mundo por outro não é mais que a manifestação de um problema prévio. Esse problema prévio é o que deve detectar-se e tratar-se por parte dos pais.
Seguir o que um filho faz numa rede social pode converter-se numa forma de o espiar?
Nós consideramos necessário que os pais participem nas redes sociais e criem os seus próprios perfis. É necessário que conheçam o ambiente no qual se movimentam os filhos, do mesmo modo que se preocupam pelo que lhes sucede na escola ou pelas amizades com as quais se relacionam.
É preciso evitar o entremetimento e, por isso, não recomendamos que se criem perfis falsos. Não é preciso esconder-se de nada. Insistimos que se deve manter o mesmo nível de intervenção que fora da Internet. Se não colocaria um microfone no banco do jardim onde o filho ou a filha conversam com os amigos, também não deve gravar as suas conversas na Rede.
Mas deverá preveni-los da mesma maneira sobre contactos com estranhos e deverá informá-los do que devem fazer e a quem se devem dirigir. Mas, depende deles utilizá-los ou não.