Paulo Afonso foi um dos 210 candidatos portugueses, de um total de 8400, a candidatar-se ao Corpo de Astronautas da Agência Espacial Europeia (ESA). Quatro vagas abertas. No final foram seleccionados seis.
Este astrofísico, que colabora na revista Super Interessante (é mesmo Super esta revista), conta na primeira pessoa a saga da sua candidatura.
É admirável a descrição, a começar pelo título Como NÃO FUI astronauta - assim mesmo, em letras gordas.
Do extenso artigo, transparece a ideia de uma exigência quase sobre-humana de perfeição e capacidade a todos os níveis.
A elaboração da candidatura começa por um certificado de condição física obtido depois de uma bateria de exames médicos de um dia no Centro de Medicina e Aeronáutica do Hospital da Força Aérea.
A ESA indicava como critérios preferenciais algum domínio do idioma russo, além do francês e do obrigatório inglês. Outros dados curriculares como mestrados, doutoramentos e experiência em áreas cujos nomes nos fazem correr para o dicionário, são elementos apreciados pela ESA.
Das 8413 candidaturas entregues, passaram à fase seguinte 800. Novos documentos. Duas dezenas de páginas de questionários médicos onde ressaltava a ideia de que não bastava que o candidato fosse saudável, mas era determinante avaliar se alguma causa hereditária poderia comprometer o seu futuro.
Mais um dia de testes intensos que decidiram os 200 candidatos que passaram à fase seguinte. Paulo Afonso estava entre estes.
Novos testes. Personalidade, natureza psicológica, física e matemática, a par de simuladores de voo e tarefas multi-função. A dificuldade era crescente e nos pequenos intervalos alguns davam com a cabeça nas paredes.
Impressionante mesmo foi a descrição de um dos testes de memória auditiva. Consistia em ouvir várias séries de números totalmente aleatórias e de duração indeterminada, memorizando a maior quantidade de números possível para, no fim, reescrever essa série em ordem inversa.
Exemplificando: se alguém disser 12, 9, 5, 11, 4, não será difícil, depois de ouvir os números, escrever 4, 11, 5, 9, 12. Mas aqui o problema que se coloca é este: se se estiver a ouvir números que podem levar quase um minuto, quais se vão memorizar?
Como não se sabe quando vão acabar de ser ditados os números, é preciso decidir o momento em que se vai "apostar" a memória: há que tomar decisões.
Aos outros testes, de dificuldade crescente, que exigiram horas de concentração intensa, seguem-se os simuladores de voo onde é necessário manter a altitude, velocidade e rumo, ao mesmo tempo que se procura novamente identificar uma série de números ditados ao ouvido onde agora é preciso separar os pares dos ímpares. Uma doidice!
E foi por aqui que se ficou o nosso Paulo Afonso. Com dupla pena nossa, porque também gostávamos de conhecer a loucura que se adivinha viria a seguir.
(a revista onde pode ler-se na íntegra o artigo é de Setembro de 2009)