
Imagens utilizadas na experiência e que foram mostradas aos macacos para que estes olhassem para a direita ou esquerda em troca de uma recompensa. Fonte: MIT.
Tropeçar duas vezes na mesma pedra é, aparentemente, inevitável, pelo menos do ponto de vista do cérebro. Isto é o que sugerem os resultados de uma investigação realizada por cientistas do Picower Institute for Learning and Memory do MIT.
Earl K. Miller, professor desse instituto, e os seus colaboradores, Mark Histed e Anitha Pasupathy, conseguiram gerar pela primeira vez uma imagem do processo de aprendizagem nos macacos.
Nesta imagem pode ver-se como as células individuais do cérebro não respondem da mesma maneira perante a informação transmitida por uma acção correcta e uma incorrecta.
Segundo explica o professor Miller, num comunicado emitido pelo MIT, o que se demonstrou é que as células do cérebro, quando uma acção gera um bom resultado, sincronizam-se com o que o animal está a aprender. Pelo contrário, depois um erro, não se produz nenhuma mudança no cérebro nem se transforma em nada o comportamento dos animais.
Esta investigação pode ajudar a compreender melhor os mecanismos da plasticidade neuronal activados como resposta ao ambiente e teria implicações para o entendimento da aprendizagem e compreensão e também no tratamento dos problemas da aquisição de conhecimentos. A plasticidade neuronal é a capacidade do cérebro mudar a partir da experiência.
Como se realizou
Foram atribuídas tarefas aos macacos estudados. Eles deviam olhar para duas imagens que alternavam no ecrã do computador. Quando aparecia uma delas, os macacos eram recompensados se olhassem para a direita; quando aparecia a outra imagem, os macacos eram recompensados se olhassem para a esquerda.
Os animais foram tentando, pelo sistema de “prova e erro”, até descobrirem que imagens os obrigava a olhar para um lado ou outro.
Graças às medições realizadas nos seus cérebros enquanto decorria experiência, os investigadores descobriram que, de acordo com as respostas correctas ou incorrectas, certas partes do cérebro “ressoavam” com as implicações das respostas, durante alguns segundos.
Assim, a actividade neuronal que se seguia a uma resposta correcta e à recompensa correspondente ajudavam os macacos a realizar melhor a tarefa seguinte.
Portanto, explica Miller, logo depois de um acerto, os neurónios processavam a informação mais depressa e de forma mais mais efectiva e o macaco tendia a acertar mais na seguinte resposta.
No entanto, depois de um erro não havia melhoria alguma no desempenho das tarefas. Por outras palavras, só depois do sucesso, e não dos fracassos, quer o comportamento dos macacos como o processamento de informação dos cérebros destes melhoraram.
Duas regiões cerebrais implicadas
Segundo explicam os cientistas, na revista especializada Neuron-9, a aprendizagem pela experiência obriga-nos a saber se uma acção passada produziu um bom resultado.
Crê-se que o córtex pré-frontal do cérebro e os gânglios basais desempenham um papel importante na aprendizagem das relações entre estímulo e resposta.
O córtex pré-frontal dirige os pensamentos e as acções de acordo com objectivos internos, enquanto os gânglios basais estão relacionados com o controlo motor, a cognição e as emoções.
Graças à presente investigação sabe-se agora, além disso, que ambas as áreas cerebrais contam com toda a informação disponível para levar a cabo as ligações e ordenações neuronais necessárias para a aprendizagem.
Por outro lado, até agora sabia-se que os gânglios basais e o córtex pré-frontal estão ligados entre si e com o resto do cérebro e que nos ajudam a aprender as associações abstractas mediante a geração de breves sinais neuronais, quando uma resposta é correcta ou incorrecta.
Mas, até agora, não se tinha entendido como esta actividade transitória, que se produz em menos de um segundo, podia influir em acções realizadas em sequência.
Mais informação transmitida
Graças a este estudo, os investigadores actividade em muitos neurónios dentro de ambas regiões do cérebro, como resposta à entrega ou não da recompensa. Esta actividade durou vários segundos, até à prova seguinte.
As respostas dos neurónios dos macacos foram, por outro lado, mais fortes se na prova imediatamente anterior tinham sido recompensados e mais débeis se na prova anterior se tinham enganado.
Por último, após uma resposta correcta, os impulsos eléctricos dos neurónios, tanto no córtex pré-frontal como nos gânglios basais, foram mais fortes e transmitiram mais informação.
Segundo Miller, isto explicaria a razão de, a nível neuronal, tendermos a aprender mais com as coisas bem feitas do que com os erros.
Yaiza Martínez