A justiça importa. São muitas as investigações que demonstraram que a prática da justiça na empresa traz consigo um aumento de produtividade e de compromisso.
Quando se fala de justiça, ou como as coisas se fazem, a sua importância redobra nos tempos difíceis. Esta é uma das conclusões a que chega o professor da Escola de Negócios da Universidade de Colúmbia, Joel Brockner.
Este professor sustenta que ser justo é complicado e que as estruturas institucionais (e o próprio ser humano) parecem conspirar contra isso.
De facto, os executivos confundem, com frequência, equidade com o ser-se brando ou com uma perda de força e autoridade.
Brockner lembra que os executivos quando se confrontam com uma tomada de decisão equitativa (como decidir quem despedir) evitam conversações ou dar explicações que os possa incomodar.
“Os executivos sentem-se mais cómodos ao procurar soluções quantitativas nos rendimentos baixos do que opções qualitativas que implicam processos justos”, diz Brockner num artigo publicado na revista Ideas At Work.
Mas a justiça importa, sobretudo neste contexto tão negativo. Por isso, os decisores devem entender que um “processo justo” conta tanto ou mais que um “resultado justo”.
O resultado e a finalidade
Para distinguir ambos os conceitos é necessário perguntar-se: posso deitar fora dinheiro nesta situação?
Por exemplo, o executivo que faz um ajustamento do número de empregados até pode estar a conduzir um processo justo, mas será necessário saber como tomou as decisões e, sobretudo, como as comunicou para determinar se levou a cabo um processo justo.
Por exemplo,
- proporcionou aos empregados um modo para testar a sua opinião sobre o processo de tomada de decisões?
- Sentem os empregados que essas decisões tiveram em conta a informação mais precisa possível?
- E, o que é mais importante, como foram planeadas e executadas (respeito, empatia, cortesia…)?
- Explicaram por que tomaram as decisões que tomaram?
Segundo este artigo, quando o executivo leva em conta estas considerações (ou parecidas) e actua em conformidade, praticou um processo justo.
Brockner participou em várias investigações onde analisou o compromisso mostrado por dois grupos diferentes de trabalhadores. Um que tinha “sobrevivido” a uma série de despedimentos e outro que não teve que passar por esse duro golpe.
A moral e a produtividade era muito menor entre os primeiros que entre os segundos. Mas, os primeiros, que de alguma forma participaram na tomada de decisão, mostraram um nível tanto ou mais alto de produtividade e compromisso que os que não sofreram a pressão dos despedimentos.
Apenas uma opinião
Integrar as pessoas na tomada de decisão pode ser algo tão simples como pedir uma simples opinião. Para Brockner, este é o elemento chave de um processo justo e, neste caso concreto, eliminava de uma só vez os efeitos negativos de sobreviver a um rodízio de despedimentos.
Como noutras coisas da vida, a justiça tem mais impacto quando é genuína. Muitos pensam que parecer justo é mais importante que sê-lo realmente. “Não devemos cometer este erro”, diz Brockner.
De certo modo, a justiça também pode aprender-se. As investigações mostram que os subordinados que tiveram algum tipo de formação têm menos probabilidades de se sentirem mergulhados no stress, mas em compensação sentem-se mais inclinados a fazer um esforço extra no seu trabalho. Neste sentido, os executivos podem (e devem) ser modelos para eles e, desta forma, alargar este círculo.
Os executivos que decidam pôr em prática ou apostar nesta maneira de gerir recursos humanos, “não devem esperar grandes mudanças, mas devem ser realistas”, diz este professor.
Quando muito, a resposta será “moderadamente positiva”, o que é muito, sobretudo em tempos de crises.
Finalmente, Brockner recomenda aos executivos que se vejam a eles mesmos como “agentes da mudança”. “De facto, as nossas acções têm mais impacto agora do que quando o ambiente é mais estável”.
Raúl Morales