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TENDÊNCIAS 21 -
Animação suspensa
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Tudo pronto para as primeiras experiências humanas de "animação suspensa"

Será aplicada em casos extremos para se conseguir reparar órgãos lesionados antes de um desfecho fatal

A “animação suspensa”, técnica que consiste em arrefecer o corpo de um organismo vivo até provocar a paralisação das funções vitais para depois devolvê-lo à vida, está pronta para ser utilizada em seres humanos.

Cientistas norte-americanos conseguiram reanimar porcos experimentais em 90% dos casos e propõem-se começar a aplicar esta técnica em pacientes terminais.

Consideram que desta forma se pode ganhar tempo para reparar órgãos antes que a morte torne inúteis os esforços da medicina.

Diversos hospitais dos Estados Unidos preparam-se para oferecer esta alternativa, que se experimentou também com sucesso na Europa.

Por Marta Morales.

 


Cientistas norte-americanos experimentaram uma técnica de animação suspensa que permtiu trazer de volta à vida os porcos submetidos à experiência, depois de três horas sem registo das suas funções vitais, o que os levou a solicitar autorização para aplicar esta técnica em seres humanos gravemente doentes, informa The Guardian.

NewScientist dá conta também do sucedido, da mesma forma que o diário australiano The Sunday Morning Herald.

A animação suspensa já tinha sido experimentada anteriormente em ratos, tal como publicamos num outro artigo.

No caso dos ratos, a animação suspensa conseguiu-se através da inalação de sulfureto de hidrogénio, que provocou a descida da temperatura do corpo de 37º para 11º e os manteve sem funções vitais durante seis horas.

Depois voltaram à vida sem ter sofrido qualquer dano, só com a ajuda de oxigénio.

Com os porcos a experiência foi diferente e numa escala mais próxima da complexidade orgânica humana, o que facilita a sua aplicação médica.

Na experiência, a temperatura corporal foi reduzida num período de vinte minutos de 37ºC para 10ºC.

Depois de anestesiados, provocou-se-lhes uma hemorragia interna com a finalidade de simular um episódio médico grave em pessoas.

O sangue perdido foi devidamente armazenado e, quando os porcos estavam quase a morrer por falta de sangue, injectaram nas veias uma solução salina fria, que é a que se usa para conservar órgãos para transplante, e mantiveram-nos nesse estado de animação suspensa durante mais de três horas.

Depois extraíram-lhe a solução salina fria e substituíram-na pelo sangue quente que tinham perdido, voltando desta forma os animais à vida, sem danos apreciáveis.

Como se nada acontecesse

O mais surpreendente é que os animais voltam à vida, depois de estar clinicamente mortos, sem que o seu cérebro seja afectado por qualquer dano neurológico.

Morrem durante horas, mas voltam a viver como se nada tivesse acontecido aos seus corpos.

Primeiro o coração começa de novo a bater, depois voltam a respirar, e finalmente abrem os olhos e observam o local onde se encontram.

O artífice desta nova experiência é Hasan Alam, cirurgião do Hospital Geral de Massachussets de Boston.

Aperfeiçoou a técnica realizando experiências em 200 porcos e considera que já está preparada para ser aplicada em seres humanos: funcionou em 90% dos casos.

O ensaio tem em vista utilizar esta técnica em pacientes que estão à beira da morte devido a acidentes automobilísticos ou por ferimentos com armas de fogo, induzindo-os num estado de “animação suspensa" que permita aos cirurgiões ganhar tempo para reparar os danos causados no organismo.

Teoricamente, é possível manter o corpo de uma pessoa nesta “terra de ninguém”, entre a vida e a morte, durante horas, enquanto tratam as feridas graves.

Esta capacidade de “apagar” a vida para depois voltar a “acendê-la”, poderia revolucionar a medicina, especialmente no caso de graves hemorragias ou de enfartes.

Evitar a morte das células

A experiência norte-americana não é a única. Outro grupo de cientistas do Hospital Geral de Viena trabalha no mesmo sentido, segundo Der Spiegel.

Ambos os grupos de pesquisa utilizaram o mesmo método: introduzir no corpo dos porcos vários litros de uma solução salina que lhes baixa a temperatura corporal até aos dois graus centígrados.

Isso faz com que o animal alcance um estado de animação suspensa, que evita que as células dos corpos morram.

Quando se quer reanimar, neste caso ressuscitar, o animal, bombeia-se sangue quente dentro do corpo, o que gradualmente faz com que o corpo recupere a temperatura.

Aos 25 graus, o coração dos porcos começa de novo a bater e volta à vida.

Segundo o semanário alemão, estão a preparar-se ensaios clínicos iniciais para seres humanos.

De facto, diversos hospitais norte-americanos, em Pittsburg, Baltimore, Los Angeles e Houston, realizarão algumas experiências em data não anunciada.

Todos os dados serão reunidos para uma análise conjunta sobre as possibilidades desta nova técnica.

Espera-se que com esta técnica se possa ganhar tempo para realizar operações cirúrgicas complicadas, nas quais está em jogo a vida dos feridos, especialmente por disparo ou acidente.

É muito comum que estes tipos de pacientes, com graves hemorragias, morram antes de os médicos terminarem o seu trabalho.

Trazer aos hospitais os feridos num estado de animação suspensa, e atendê-los logo que cheguem com tranquilidade para operá-los, poderia salvar muitas vidas, asseguram os pesquisadores.

Guardar o sangue quente

Nesse caso, os médicos deixariam que os pacientes “morressem” com falta de sangue, guardariam o seu sangue, depois injectar-lhes-iam a solução salina fria e, finalmente, só quando as feridas tivessem sido suturadas, é que os fariam reviver, introduzindo no corpo o sangue quente que tinham perdido.

Espera-se que este procedimento, nos próximos 18 meses, resulte em pacientes humanos, mesmo que só naqueles em que se torne mais claro que a sua salvação com a medicina tradicional de emergência se creia impossível.

As primeiras provas deste tipo de tratamento foram realizadas pelo doutor austríaco Peter Safar, do Safar Center for Resurrection Research, dos Estados Unidos, que experimentou esta mesma técnica em cachorros desde 1994.

Aos cachorros, o estado de animação suspensa tinha em vista dar mais tempo aos cirurgiões para tratar os ferimentos de guerra.

Safar utilizou também a solução salina fria para mantê-los em estado de morte clínica.

Novas expectativas

A esta solução, Alam e a sua equipa de Boston adicionaram pequenas quantidades de açúcar, o que permitiu que os animais pudessem voltar à vida depois das três horas de animação suspensa.

Nas suas primeiras experiências, Safar demorava até 12 horas a descer a temperatura dos cachorros enquanto aumentava levemente a pressão no sangue para que circulasse apesar de este se ter tornado espesso com o frio.

Desta maneira, atingiu dez minutos de paragem absoluta do coração e da actividade cerebral sem que se produzissem lesões.

O problema para que o tratamento funcionasse com seres humanos em situação de emergência era encontrar uma forma mais rápida de congelar o corpo, que fosse mais prática e que desse mais tempo aos médicos para actuar no futuro.

A solução salina fria foi finalmente uma descoberta importante para que o processo se conseguisse, abrindo novas expectativas aos cientistas actuais.

 

 


Criado em: 30/01/2006 • 17:11
Actualizado em: 05/11/2020 • 17:22
Categoria : TENDÊNCIAS 21


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Comentários


Comentário n°1 

Gleid 05/03/2006 • 15:52

Olá, esta matéria é muito interessante, e nos traz novas expectativas em relação a doênças incuráveis, estou no 1º Semestre de Biologia e procurava algo polêmico para fazer um trabalho de química, e graças a vcs encontrei.um beijo e abraço a todos.

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