A espiritualidade determina o grau de felicidade das crianças, assinala um estudo realizado pelos cientistas Mark Holder, Ben Coleman e Judi Wallace, da Universidade de Columbia, no Canadá, e cujos resultados apareceram publicados na revista especializada Journal of Happiness Studies.
Os mesmos resultados apontaram, no entanto, que as práticas religiosas (como ir à igreja, rezar ou meditar) não influem no nível de felicidade infantil. Uma explicação possível para esta ausência de relação poderia estar no facto de serem os pais, e não as crianças, quem determina a frequência destes hábitos, explicam os investigadores.
A espiritualidade poderia descrever-se como um sistema interior de crenças, enquanto a religiosidade é mais uma actividade organizada e externa, que pode estar baseada numa igreja, num livro ou em práticas ou rituais, etc.
O aspecto pessoal e comunitário
A investigação foi levada a cabo em quatro escolas públicas e duas privadas (religiosas), com um total de 761 crianças. A todos foram entregues seis questionários diferentes com os quais se mediram os níveis de felicidade, espiritualidade e religiosidade, bem como o seu temperamento natural.
Os pais das crianças também participaram das pesquisas, informando sobre o grau de felicidade e o tipo de temperamento dos seus filhos.
Apesar de já se terem realizado investigações sobre a relação entre felicidade e espiritualidade e religiosidade em adultos e adolescentes, esta mesma relação ainda não tinha sido bem estudada em crianças.
Segundo explicam os cientistas no seu artigo original [pdf], os participantes seleccionados para as provas tinham entre oito e 12 anos, porque é nestas idades que as crianças já são capazes de identificar e empregar as suas emoções.
A análise dos dados dos questionários revelou que as crianças que afirmavam ser mais espirituais eram mais felizes.
Concretamente, o aspecto pessoal (por exemplo, o valorar a própria vida ou sentir que esta faz sentido) e o aspecto comunitário (a qualidade e profundidade das relações interpessoais) da espiritualidade das crianças foram fortes indicadores da felicidade destes.
Altruísmo e amabilidade
A espiritualidade explicou de facto 27% das diferenças nos níveis de felicidade das crianças.
Por outro lado, o temperamento das crianças também foi um importante indicador da sua felicidade. Em particular, as crianças mais felizes mostraram ser as mais sociáveis e as menos tímidas.
Mas mesmo sem ter em consideração o temperamento no momento de medir o grau de felicidade dos participantes, a relação entre espiritualidade e felicidade continuou a ser importante.
Segundo os autores, a investigação aponta para o aumento do sentido pessoal como factor chave na relação entre espiritualidade e felicidade nas crianças.
Por isso, qualquer estratégia nesta direcção, como ajudá-los na amabilidade para com os outros, a serem altruístas ou a praticar o voluntariado, vai fazê-los sentirem-se mais felizes.
O dinheiro não dá a felicidade
Era inevitável a análise deste chavão desgastado pelo tempo. Estes resultados coincidem com estudos similares realizados em adultos e adolescentes. Diversas investigações demonstraram que existe uma relação positiva similar entre a espiritualidade ou a religiosidade e a satisfação vital, a felicidade ou o bem-estar.
Segundo explica Holder, num artigo publicado anteriormente pela Universidade de Columbia, factores como o dinheiro contribuem pouco para a felicidade das crianças.
De facto, assinala o investigador, o dinheiro só explicaria 1% dos sentimentos de felicidade das crianças, tanto nas que estudam em escolas públicas como nas privadas.
É a espiritualidade, entretanto, a que produz o sentimento de viver com um sentido, estimula a esperança, reforça as normas sociais positivas e proporciona uma rede social de apoio, todos eles elementos que melhoram o bem-estar pessoal.
Ainda ficam muitas questões por explorar a este respeito. Uma delas é como potenciar a felicidade das crianças aplicando estes novos conhecimentos. Mas os investigadores esperam que algum dia haja actividades escolares que vão nessa direcção. Definitivamente, gente feliz é mais tolerante, criativa e produtiva.
Yaiza Martínez