Os casos de adolescentes que prejudicaram outras pessoas, invadem os meios de comunicação sem que saibamos muito bem o que está a acontecer.
Um recente em que se utilizou a tecnologia fMRI para medir a actividade cerebral de jovens violentos, revelou que estes poderiam desfrutar realmente do sofrimento alheio.
Os cientistas esperam com esta investigação compreender melhor um tipo de desequilíbrio comportamental que leva os adolescentes a cometerem atrocidades aos outros e, em algumas ocasiões, também a eles mesmos.
Os comportamentos violentos dos jovens costumam abanar as consciências pelo inexplicável que parecem. Um Tribunal de Barcelona, Espanha, condenou recentemente a 17 anos de prisão dois jovens que queimaram viva uma indigente num caixa automático de Barcelona em 2005, enquanto que há apenas umas semanas, acordávamos com a notícia do assassinato de uma adolescente em Ripollet, às mãos de dois menores.
O que leva estes jovens a realizarem actos tão brutais? Aparentemente, segundo assinala um estudo recente realizado pela Universidade de Chicago, nos Estados Unidos, poderá ser o prazer.
Segundo os registos de imagens da actividade cerebral realizados a uma série de menores definidos como “violentos”, enquanto estes viam num ecrã imagens de pessoas a sofrer algum tipo de dor física, os jovens muito agressivos manifestavam realmente prazer perante os danos infringidos aos outros.
Sofrimento e recompensa
O director da investigação, professor de psicologia e psiquiatria da Universidade de Chicago, Jean Decety, declarou num comunicado emitido por essa universidade: “esta é a primeira vez que as explorações de ressonância magnética funcional (fMRI) se utilizam para estudar situações que poderiam provocar empatia”.
Por outro lado, assinalou Decety, “este trabalho vai ajudar-nos a compreender melhor a forma de trabalhar com jovens tendencialmente agressivos e violentos”.
A tecnologia fMRI mede a resposta hemodinâmica relacionada com a actividade neuronal do cérebro e é uma das mais recentes técnicas de captação de neuroimagens.
Graças a ela, os cientistas puderam constatar que os cérebros dos jovens violentos mostravam uma actividade extra numa área relacionada com a recompensa, quando estes viam um vídeo de alguém que infringia um dano a outra pessoa. Os cérebros dos jovens de um grupo de controlo – jovens que não tinham um comportamento agressivo - não mostraram, por outro lado, esta resposta perante as mesmas imagens.
No estudo, os investigadores compararam oito jovens entre os 16 e 18 anos com desordens de comportamento agressivo, com outro grupo de controlo formado por oito jovens que não tinham dado sinais de agressividade. Os adolescentes do primeiro grupo foram seleccionados por terem cometido actos violentos como provocar brigas, fazer uso de uma arma ou cometer roubos após enfrentar as vítimas.
Regiões do prazer
Todos os participantes foram analisados com fMRI enquanto observavam vídeos nos quais as pessoas passavam por alguma dor física, produzida acidentalmente – como quando algum objecto pesado cai sobre uma mão - ou provocado de maneira intencionada, como quando uma pessoa dá um pisadela a outra.
Segundo Decety, “os adolescentes agressivos mostraram uma activação muito forte e específica nas regiões cerebrais da amígdala cerebral e do corpo estriado, quando viram a dor dos outros, o que sugere que teriam tido prazer ao ver o sofrimento alheio”.
A amígdala é um conjunto de núcleos de neurónios localizados nos lóbulos temporais do cérebro, cujo papel principal é o processamento e armazenamento de reacções emocionais.
O corpo estriado, por sua vez, encontra-se na base do cérebro e na parte externa de cada um dos ventrículos laterais e é uma área que responde ao sentimento de gratificação.
Por outro lado, e a diferença dos jovens do grupo de controlo, no cérebro dos adolescentes com desordens de conduta não se activou a área relacionada com o auto-regulamento, situado no córtex pré-frontal médio e na intersecção temporoparietal.
Conduta desordeira
Segundo os autores do artigo "Atypical Empathetic Responses in Adolescents with Aggressive Conduct Disorder: A functional MRI Investigation", a conduta desordeira é uma desordem mental grave de crianças e adolescentes que se caracteriza por apresentar um padrão duradouro de violações de regras e de leis.
Entre os sintomas estão as agressões físicas, as mentiras manipuladoras, os roubos, as violações, as intimidações, os ataques à propriedade ou as saídas de casa.
Os investigadores assinalam que esta desordem mental é um problema de saúde pública da máxima importância, porque os jovens não só podem prejudicar seriamente os outros como também podem eles próprios acabar por sofrer de depressão, abuso de drogas, cometer homicídios e até suicídio.
Por outro lado, é o principal precursor da desordem de personalidade anti-social na fase adulta, daí surgindo a imperativa necessidade de compreender os processos biofisiológicos que o desencadeiam.
Empatia inata perdida
Decety é um especialista em empatia e neurociência social, internacionalmente reconhecido. O cientista demonstrou, utilizando a mesma técnica de exploração cerebral (a fMRI), que as crianças sofrem, tal como os adultos, a dor alheia, isto é, ao ver alguém a sofrer uma dor física, apresentam as mesmas respostas neuronais que os adultos e nas mesmas áreas cerebrais.
Estes resultados apontariam, portanto, a empatia como um factor inato, que não depende só da educação recebida. Segundo assinalou, a “programação” cerebral para a empatia estaria definida de um modo pré-determinado e inamovível nos cérebros das crianças de desenvolvimento normal.
Os cientistas tentam agora descobrir até onde vai a empatia quando as crianças se transformam em jovens com comportamento desordeiro e como poderiam evitar-se as atrocidades que vemos acontecer às mãos dos que deveriam ser mais inocentes que os adultos.
Yaiza Martínez