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Dieta que activa o gene da longevidade
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Já dizia um certo senhor, a rondar os 100 anos, a alguém que lhe perguntava pelo segredo da sua longevidade:


- Pouca cama, pouco prato e muita sola de sapato!

Esta memória vem a propósito dado que vários investigadores de diversas universidades vêm dizer isto mesmo com palavras caras, com estudos e relatórios científicos.

O tal senhor não sabia nada de sirtuinas, mas sabia do que falava quando falava de longevidade.

 



Nos últimos anos, diversos centros de investigação procuram conhecer em profundidade o efeito da dieta global ou de nutrientes concretos sobre a prevenção do envelhecimento celular.

Numerosas investigações em animais (ainda não em humanos) associam a restrição calórica a uma maior esperança de vida, mesmo que não se conheçam exactamente os mecanismos que o provocam.

A propósito deste tema, cientistas da Universidade de Navarra publicaram uma investigação onde apresentam uma dieta que activa as sirtuinas, um tipo de enzimas também conhecidas como o gene da longevidade.

A investigação provou, em animais de laboratório, que uma dieta baixa em calorias activa estas enzimas com a consequente diminuição do stress oxidante celular - que poderá ter efeitos positivos no retardamento do envelhecimento - e do desenvolvimento de doenças degenerativas. Não obstante, os dados não são ainda extensivos aos humanos.

Menos calorias, mais vida

A redução da ingestão de alimentos aumenta a vida útil numa ampla gama de espécies

Está demonstrado que uma dieta baixa em calorias tem efeitos benéficos em vários biomarcadores do envelhecimento, como a diminuição da sensibilidade à insulina, um elemento precursor da diabetes que está associada à idade.

Quanto à capacidade da dieta para travar o envelhecimento, sabe-se que um factor importante na idade, relacionado com a diminuição das funções corporais, é a acumulação do "dano oxidante" no organismo por acção dos radicais livres sobre as proteínas, as gorduras e o DNA.

Uma das formas orgânicas de produção de radicais livres tem lugar quando os alimentos se transformam em energia nas estruturas celulares chamadas mitocôndrias.

Está a estudar-se a fundo a teoria de como a restrição calórica atrasa o envelhecimento ao reduzir a formação de radicais livres nas mitocôndrias. É bem sabido que a redução da ingestão de alimentos (restrição calórica) estende a vida útil em muitas espécies.

Aparentemente, as enzimas implicadas neste processo de protecção são as sirtuinas (SIR2, SIRT1 nos mamíferos). Estas enzimas regulam a morte dos genes, a reparação do DNA, além do envelhecimento e a regulação da morte celular programada.

Diversos centros de investigação procuram conhecer há anos, com mais detalhe, o efeito da dieta sobre as sirtuinas, o que ajudaria ao desenvolvimento de novas terapias para regular transtornos metabólicos e lutar contra as doenças degenerativas.

Uma das investigações mais recentes está a ser levada a cabo por cientistas do Departamento de Ciências da Nutrição, Fisiologia e Toxicologia da Universidade de Navarra, que foi publicada em Setembro passado no "European Journal of Clinical Investigation".

Os investigadores comprovaram, em animais de laboratório, que uma alimentação baixa em calorias afecta directamente as sirtuinas, provoca a sua activação e a consequente perda de peso e diminuição do stress oxidante celular.

Segundo os investigadores, o estudo das sirtuinas "serviria para conhecer os efeitos da nutrição hipocalórica em doentes com obesidade", além de propor uma ferramenta para a aplicação de possíveis activadores destas enzimas (em doenças causadas por morte de neurónios como o Alzheimer ou o Parkinson, por exemplo).

Estudo em humanos

Os investigadores do Centro Pennington de Pesquisa Biomédica de Louisiana (EUA) comprovaram em humanos (jovens sem obesidade, mas com sobrepeso) o efeito da dieta hipocalórica na activação das sirtuinas.

O estudo teve por objectivo examinar a resposta da mitocôndria das células musculares apenas à restrição calórica ou em combinação com a realização de exercício físico. Participaram 36 jovens com sobrepeso neste estudo.

Na investigação, o grupo de controlo consumiu 100% das necessidades de energia; ao grupo CR aplicou-se 25% de restrição calórica e ao terceiro grupo (CREX) reduziu-se em 12,5% as calorias da dieta e aumentou-se 12,5% o consumo energético por meio de exercício físico.

Os participantes dos grupos CR e CREX aumentaram a expressão de genes que codificam proteínas implicadas na função protectora mitocondrial, entre elas as sirtuinas (SIRT1), que diminuem o consumo celular de oxigénio e o dano de DNA provocado pelos radicais livres.

Estes resultados indicam que num curto prazo de seis meses, se alcance já o déficit de calorias pela dieta ou por meio de dieta e exercício, ao mesmo tempo que se verifica uma melhor eficiência da função mitocondrial, o que poderia ter efeitos potenciais para travar o envelhecimento e aumentar a longevidade nos seres humanos.

No entanto, a duração de seis meses deste estudo é muito pequena e não pode proporcionar uma evidência directa. Segundo os investigadores, apesar dos indícios que a restrição calórica possa ter evidenciado, há ainda poucos estudos realizados em pessoas sem sobrepeso.

Também se desconhece se um déficit energético produzido pelo aumento da actividade física tem os mesmos efeitos protectores que a restrição calórica.

Também não está claro como a restrição de calorias altera a função mitocondrial. A avaliação completa dos efeitos a longo prazo de redução da ingestão de energia é o objetivo do Projeto CALERIE que está já a decorrer nos Estados Unidos e onde participa o Centro Pennington de Pesquisa Biomédica.

Neste estudo colocou-se a hipótese de a curto prazo o déficit calórico (com ou sem exercício) aumentar a eficiência das mitocôndrias nas células musculares humanas, aguardando-se agora os resultados.

Activar as sirtuinas com antioxidantes

Numerosas investigações estão a tentar saber como se activam as sirtuinas pelo importante papel que desempenham no envelhecimento celular.

Neste sentido, surgiram estudos que provam que substâncias como o resveratrol, antioxidante natural presente na pele das uvas tintas, no vinho tinto ou nas nozes, poderia substituir os efeitos da dieta hipocalórica no momento de activar as sirtuinas.

Assim o confirma um estudo levado a cabo por investigadores da Unidade de Farmacologia e Farmacognosia e do Instituto de Biomedicina (IBUB), da Faculdade de Farmácia da Universidade de Barcelona.

Aparentemente, o resveratrol é capaz de modular também a actividade das sirtuinas, activando-as, o que poderia ser interessante na terapêutica de doenças derivadas do envelhecimento cerebral como o Alzheimer ou o Parkinson.

Projecto CALERIE

Está demonstrado que a restrição de calorias aumenta a vida média nos animais e atrasa a aparição e o desenvolvimento de doenças relacionadas com o envelhecimento associado à idade.

Com esta ambiciosa investigação pretende-se analisar os efeitos resultantes de dois anos de restrição de alimentos (uma redução de 25% de calorias em relação às necessidades energéticas individuais) em condições normais, em indivíduos sãos, com peso normal e/ou com sobrepeso; a redução do risco de doenças e a desaceleração do processo de envelhecimento.


 




Criado em: 29/10/2008 • 15:26
Actualizado em: 08/01/2021 • 16:43
Categoria : ARTIGOS DE FUNDO


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