Os dicionários possuem milhares de páginas cheias de definições.
Ainda que isto esteja longe de ser sucinto, um estudo sugere que um manual de referência está meticulosamente organizado para ser tão conciso quanto possível, num formato que se assemelha à forma como o cérebro atribui categorias e dota de sentido as incontáveis palavras do nosso vasto vocabulário.
Para quem está nos primeiros anos de estudo, ou está a aprender uma segunda língua, pode ser frustrante tentar saber o significado de uma palavra desconhecida num dicionário.
Se se consultar uma palavra, a sua definição remete-nos para outras palavras e estas para outras e assim sucessivamente.
O estudo de Mark Changizi, do Rensselaer Polytechnic Institute, sugere que todas as palavras se baseiam num pequeno número de palavras fundamentais. É como se essas palavras fossem os “átomos” a partir dos quais se formam todas as “moléculas”.
Segundo este investigador é como se a organização em grande escala de um dicionário tivesse sido orientada no tempo de acordo como a mente humana sistematiza as palavras e os seus significados.
Os dicionários constroem-se como uma pirâmide. As palavras mais complexas, como “antílope” ou “atum”, situam-se na cúpula e são definidas mediante palavras mais básicas situadas mais abaixo na pirâmide.
Eventualmente todas as palavras estão relacionadas com um pequeno número de palavras fundamentais ou “atómicas”, como “grupo”, ou “acção”, que são tão fundamentais que não podem ser definidas em termos mais simples.
O número de níveis de definição que é necessário para definir uma palavra a partir de outras palavras, até chegar às palavras fundamentais, denomina-se nível hierárquico da palavra.
O estudo indica que os dicionários que usamos habitualmente utilizam valores óptimos nos níveis hierárquicos. Além disso proporcionam um mapa visual sobre a forma como o léxico evoluiu por si mesmo culturalmente em dezenas de milhares de anos, para ajudar a minimizar o espaço cerebral médio necessário para o codificar.
Outras invenções humanas, como a escrita ou os sinais visuais, também foram desenhados por simplicidade ou selecção cultural no tempo para assim minimizar os requisitos cerebrais.
Mediante o uso de uma série de cálculos baseados na estimativa de que as palavras mais complexas no dicionário totalizam cerca de 100.000 termos (no idioma inglês), e que o número de palavras fundamentais está abaixo das 60, Changizi foi capaz de conceber três características presentes nos dicionários mais eficientes (e na sua contrapartida cerebral).
Além disso descobriu que o número total de palavras empregadas ao longo de todas as definições no dicionário (ou seja o tamanho total do dicionário) muda em relação ao número total de níveis hierárquicos presentes.
Os dicionários óptimos deveriam ter aproximadamente sete níveis de hierarquia, segundo Changizi. Se só se usassem dois níveis poder-se-ia reduzir o tamanho total de um dicionário em 30% aproximadamente.
Adicionalmente um utilizador encontrará progressivamente mais palavras em cada nível hierárquico e cada nível contribui principalmente para as definições de palavras que estão um só nível acima.
Changizi comprovou a valia dos seus prognósticos confrontando-os com os dados procedentes de dicionários reais. Assim, por exemplo, The Oxford English Dictionary e WordNet possuem as três características que todo o dicionário organizado economicamente, isto é, em termos de minimização, tem que ter, segundo ele.
Deste modo economiza-se o espaço necessário requerido pelo dicionário para definir um léxico. Segundo Changizi, estes livros de referência alcançaram ao longo dos séculos uma organização praticamente óptima.
Será preciso atribuir tal facto à força da selecção cultural que foi acontecendo ao longo do tempo conformando a organização do nosso léxico com o mínimo espaço e energia mental.
Este professor acredita que a sua investigação tem potenciais aplicações no estudo da aprendizagem infantil. Os cientistas poderiam analisar como é que os estudantes aprendem palavras do vocabulário, permitindo, deste modo, desenvolver atitudes para optimizar o processo de aprendizagem.
O artigo com este estudo será publicado na edição de Junho do Journal of Cognitive Systems Research.