Alguma vez, ao beber um copo de água ou um copo de vinho, notou um estranho odor, quase imperceptível, a "humidade"? Ou ao passar perto de um jardim depois de ter sido regado ou depois de uma chuvada deu conta de um aroma como que "a terra molhada"? Sabe o que produz este cheiro a terra molhada? A resposta é a geosmina.
A geosmina, palavra grega que significa "aroma da terra", é uma substância química produzida principalmente por Streptomyces coelicolor, bactéria inofensiva que se encontra na maioria dos solos, e em algumas cianobactérias, que confere esse cheiro típico da terra molhada.
A Streptomyces é a principal fonte dos antibióticos utilizados na medicina actual e, por isso, foi e está a ser profundamente investigada.
Em geral, a Streptomyces está em mais de 6.000 produtos químicos diferentes, que incluem agentes antibacterianos muito conhecidos como a tetraciclina, a eritromicina, a rifampicina ou a canamicina, fungicidas como a nistatina, além de agentes anti-tumorais, antihelmínticos e imunosupressores, entre outros.
Mas que utilidade prática pode ter a investigação da geosmina se ela não tem uso medicinal ou similar?
O conhecimento das bases moleculares e a biossíntese da geosmina, podem beneficiar os amantes do bom vinho, e especialmente os de paladar mais sensível, já que a presença da geosmina é um verdadeiro pesadelo para os produtores ao estragar as características do vinho.
Surprendentemente, é a geosmina que permite a sobrevivência dos camelos nos desertos áridos, pois parece ser ela que dá o sinal da proximidade de água.
Uma coisa é certa, os camelos do deserto de Gobi são capazes de encontrar água a mais de 80 km de distância. Como são eles capazes de tal proeza é questão que os cientistas têm colocado ao longo dos anos.
Pensa-se que o aroma da geosmina pode ser um mecanismo para que os animais dispersem os esporos destes microorganismos. Assim, quando os camelos bebem água, disseminam os esporos para onde forem, ajudando a sua propagação.
Não só os camelos são atraídos pelo cheiro da geosmina. Algumas lombrigas e insectos também. Os botânicos descobriram geosmina em flores de cacto e noutras flores do Amazonas e acreditam que, atraídos pelo cheiro que faz crer aos insectos que as plantas têm água, estes acabariam acidentalmente por polinizar a flor.
É interessante descobrirmos o alcance destes estudos, aparentemente sobre questões triviais e sem utilidade directa, concluindo que eles estão na origem de saberes que explicam outros mecanismos que permaneciam inexplicados até agora.